sábado, 29 de maio de 2010

insigh

querido Tumzé, meu clareador de consciência, disse em uma de suas entrevistas que sua fonte de inspiração era seu quarto e a solidão. E disse também que defendia tudo que começa do zero. Que prá se fazer qualquer coisa com arte, com substância, precisa fazer o exercício do zero. O zero foi uma invenção dos árabes, que deram grande desenvolvimento á matemática.
O zero é coisa fundamental.
É aquela hora em que você está sozinho e percebe que não tem mais nada das grandes coisas.

Aí você não tem nada. Está morto. No caos.

Nesses lugares, quando você faz o primeiro tartamudeio é como se o gênese acontecesse de novo. -porque você sai com uma coisa nova e aí tem que dar atenção, não deixar os terremotos te tirarem do seu centro.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

...E vamos nos ver, de agora em diante, normalmente.
Essa palavra me vem como uma farpa no meu pé.
n o r m a - m e n t e.
não sei o que é isso. se a norma é o coração e a mente a paixão.
a razão fica no meio, meio misturada. mas é o ingrediente que não pode faltar.
Aí vira casualidades bem intencionadas. de intenção e intenso.

não sei lidar com isso. mas eu te falei isso também.
meu coração é meio fraco, meio safado, meio vagabundo.
e não tem portinha. fica lá aberto prá quase todo mundo que quiser entrar.
Daí eu encontro uma portinha que não quer abrir de jeito nenhum.
deixa eu dar umas voltinhas ao redor. ver como ela é... 
o seu cheiro...
sua textura...
sua cor...
sua história...
sua alma.
sua alma.
mas ela não abre, só te deixa com vontade de entrar.

e mais dia menos dia depois de esperar ela se abrir, a gente arromba. ué, acho que as coisas acontecem assim, não é? não me acostumo com portas fechadas. apesar de encontra-las o tempo todo. sempre dou um jeitinho de abrir.

mas dessa vez não deu certo. e agora tenho que agir normalmente.
porque você decidiu a começar a fazer assim. 
eu disse que não sei lidar com isso.
mas estou pensando aqui. talvez também nem tenha jeito de eu aprender isso.
acho que já reconceituei esse conceito. o velho não me cabe mais.

ficamos assim.


Eu gosto de gato. De gato, de criança e de cachorro. Gosto também do céu, da lua e das estrelas. E gosto muito. Não é pouco não. Sabe, porque todos eles prestam atenção em mim. E não de qualquer jeito. É recíproco. Eu sinto eles, eles me sentem. Eu aprendo muito com eles, e acho que eles mudam um pouquinho comigo também. Mesmo os que ficam em silêncio. Mesmo os que fazem muito barulho.

E depois me perguntam se eu estou gostando de dar aulas. Se eu estou gostando de dar aulas no Estado. E tem jeito de não gostar?

Conversa prá gente grande

...

“As outras escolas que você dá aula tem piscina?”

“Não, nenhuma escola do Estado tem piscina.”

“Que pena. Eu queria nadar numa piscina.”

“Mas Gab, no sesqui tem piscina de graça.

É só pagar uma taxa que dá prá usar o ano todo.”

“Mas meu pai não deixa eu sair sozinho de ônibus. “

Eu queria saber ler logo prá poder pegar ônibus.”

“Então a gente podia ir junto nesse final de semana passar o dia lá.

O que acha?”

“A gente podia se encontrar na frente da escola e aí a dona vai junto com a gente pró sesqui.

A gente pode sair daqui três da manha prá aproveitar o dia todinho.”

“Poxa mas eu tenho que pegar dois ônibus prá chegar aqui.

Depois mais dois prá chegar lá.”

“Mas eu não posso ir nem no terminal...

tem um monte de gente, uma bagunça e eu me perco.”

(pausa para a expressão facial que meu coração não resiste...)

“Está bem. Venho buscá-los de manhã.

Me de seu telefone prá eu combinar com seus avós o esquema e pegar a autorização.”

“Tá professora.

Anota aí: um...”

“Um?

Tem certeza?

Tem numero que começa com um?”

“Tem sim professora.

Vai anotando... um...”

“Tá.”

( –pego uma caneta e um papel.)

“Um...

que mais?”

“Novezero.”

(?)

(risos das crianças)

“É esse mesmo professora.

A dona liga lá na polícia e fala que eu sumi.

E eles me acham e eu te ligo de lá.”

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Caça ás jovens professoras bruxas!

Fui recebida pela seguinte frase: "dona você vai ser expulsa da escola?"
Uai. Porque eu perguntei. Ah! Porque tem um monte de mãe ai falando que você fez macumba na sua aula de ontem.

(reflexão por um segundo)

-Nossa... mas será o Benedito! Agora essa?
Mas dona, fica tranquila que a gente não vai deixar você ir embora não. A gente vai fazer rebelião. REBELIÃO! (Isso já na sala de aula porque o assunto se estendeu até lá) queremos ver a escola funcionar sem aluno!

Esqueci de mensionar que é quintaseries. Não só elas. Antes de entrar na sala as outras turmas -que eu nem dou aula- vieram com essa mesma história.

Até agora ninguém "lá de cima" veio me chamar para uma agradável conversa. Só sei que eles se anteciparam e foram falar com quem tem os poderes de Grayskull para contar a verdade. A verdade ué. só isso. e dizer que são contra qualquer tipode ação contra isso - inclusive queriam outra aula assim.
Talvez seja por isso que ainda não tenham chegado raios e trovões a mim. Meus anjos seguraram todos eles antes. Incrível. Estou ainda compreendendoo que aconteceu.

Mas sabe como me sinto? Até citei para eles na sala, no filme "O nome da Rosa". Vocês se lembram quando os personagens fundamentalistas confundem gato preto e galinha preta com bruxaria? Quando no fundo, a mina e o corcunda iam fazer um rango com os animais. Resultado: Fogueira neles!
Tá. Tudo bem. Idade Média a gente até compreende a cisrcunstância histórica, as determinações, as limitações e tudo o mais.
Mas hoje em dia, onde se discutem o aborto, a legalização da maconha, as nanotecnologias, as células-tronco me condenarem e falarem de "afastamento" porque fiz uma dinamica diferente com minhas crianças?

Palmas e pés descalços é macumba. E o mundo tá do avesso mesmo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Com alma e ritmo

Entrei na quintadê como todas as quartas.

Mas antes. O clima que circunda não é muito confiável mas nem fiz questão de me preocupar. Minhas duas crianças iluminadas que levaram bronca - mulecagem prá variar - me receberam com aquele sorrisinho de quem fez arte. Depois da bronca, sairam lá fora prá me contar. Ganhei dois presentes. Um abraço de cada. Não queriam ir prá sala, já dizia o Gabi: "- É muito chato estudar". E é mesmo Gabriel, eu disse. Estudar aqui é muito chato mesmo e em qualquer escola pública. Porque iria ser legal? É legal ser obrigado a ficar numa sala quente pequena, sem janela, só com vitrozinhos, duas turbinas de ventilador, com 30 e poucos colegas cheios de energia prá gastar e uma louca tentando coordenar do seu jeito as aulas???
Ainda bem que são lúcidos!
Mas disse que por outro lado o conhecimento é legal. A sensação de descobrir algo que não sabia, poder falar de algo que antes desconhecia, poder se defender de coisas que antes nem sabia que tinha direito! Mas isso é conhecimento, não só informação. Envolve um processo reflexivo, eu disse. E tem que ter calma para isto. Tem que ter respeito, tem que ter cuidado. Tem que ter reciprocidade.
Grande conceito que a cada dia tento ensinar para eles de uma forma diferente. E acho que já estão sacando...
Depois dessa conversa esqueceram que não queriam ir para a sala. E sairam andando.

Fumei meu cigarrinho lá fora como de costume, me embebi da entrevista deliciosa e interminável do Tunzé e peguei um livrinho no estocador de livros para preparar mais ou menos o assunto que geraria a discussão na sala.
Segundo cigarrinho, mais um cafézinho e entrei.

Senti que era hora de falar de História. Mas não apenas da civilização da China e da Índia como estava proposto no livro. Senti que era fundamentar em todos os sentidos a história. E EM TODOS OS SENTIDOS literalmente.

Então resolvi fazer uma bagunça. Mas uma bagunça organizada. Cadeira prálá, cadeira prácá. Pronto. Com uma cadeira no centro da sala, subi e pedi para sentarem em volta de mim. Então joguei minhas sandálias do outro lado. E pedi para fazerem o mesmo. -"Tirem os sapatos. Sintam o chão". Essa foi uma experiencia de uma querida amiga da filosofia das crianças que me deu, que adaptei. -"sintam o chão, o que sentem?"

-"É frio"- disseram eles
-"É sujo"
-"É duro"

E é mesmo, eu disse. Ai já começaram a dispersar. Tum. tum. tum... comecei a bater as mãos devagarzinho. Olhares estranhos. deviam pensar: que dona maluca é essa! Até que um dos aluninhos começou a bater comigo. E todo mundo no mesmo ritmo bateu também.
Parei. Voltou o silêncio. E disse porque estava fazendo aquilo.
-"Estou falando de História quando peço para sentirem o chão. Porque também é terra. É raiz. Mais do que ser frio, sujo e duro é raiz. E raiz é a gente. raíz é da onde a gente veio. raíz é nossa história. E somos o que somos hoje porque os homens no começo se relacionaram. E se relacionaram juntos prá poder aprender a caçar, a falar, a se defender, a fazer música, a fazer arte. E tinha que ser junto. Se não a sociedade não existiria. E todo mundo era igual. Trabalhava prá todo mundo. O bem de um era o bem de todos.
E, meninos e meninas, quando que foi que essa coisa bonita mudou? Quando que foi que a sociedade começou a andar prá tras de novo? Quando o homem começou a querer fazer tudo sozinho prá ele mesmo. Mas isso já faz tempo? Talvez 200 anos. Mas é muito 200 anos? Quantos anos tem a humanidade? uns milhares... hummm... então faz bem pouquinho tempo que a sociedade começou a seguir outro rumo. Em vez de se desenvolver "para melhor" agora a gente tem catástrofe ambiental, enchentes, mortes por fome, violência, desemprego cada vez em ritmo mais acelerado.
...(uma pausa para reflexão)
Por isso que a gente tem que ficar descalço. tem que usar todos os sentidos para poder conhecer e apreender a realidade, a nossa história e a nossa História, que afinal de contas, é a mesma.
A gente não aprende só com os olhos e com o ouvido. É com o tato, com o alfato e com o coração. Tudo junto. Assim como nossos antepassados que passaram por tanta coisa prá gente tá aqui hoje.
E a gente esquece. A gente acha que a gente apareceu sozinho. Que as coisas são assim mesmo.
Por isso que a gente tem que por o pé no chão. Prá não esquecer nossas raízes. Prá não esquecer dos que já passaram e o que devemos a eles. Prá não esquecer que na maior parte do tempo os homens não sabiam o que era egoísmo, mesquinhes e arrogância.
Por isso lembrem-se sempre disso quando colocarem o pé no chão descalças. Porque não é apenas chão."
Achei que sairia dos "2 meses" de virada cultural mais facilmente. Mais atrasei de novo prá dar minhas aulinhas. Porém a seção trash vem agora.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tinha perdido a senha desse negócio aqui. Quase desisto. Mas sem querer descubro de novo.
Às vezes "encasqueto" com as coisas - como já diria minha mãezinha - e fico teimosa até conseguir. E engraçado que as vezes nem é importante. Mas eu tenho que fazer.
Deve ter algum motivo, vai saber.

Amanhã enfrento mais uma guerra. Guerra com meu cansaço - agora são 3h da madruga - e acordo as 5h30 para tomar banho e pegar 2 buzões pra dar aula lá no Parque São Paulo. Mas acho que o maior quiabo é enfrentar a galera gente boa do Leonardo Barbieri. Falo isso porque eles são muito legais comigo, verdadeiros, sempre dispostos a ajudar e acreditam na minha capacidade de dar aula. Deve isso mesmo. E eu que sou muito injusta. A gente percebe mesmo o quanto a experiência por si só é alguma coisa importante principalmente quando a gente olha prá escola pública hoje e vê que beleza que ela está. E olha que coincidência, a maioria tem no minimo 10 anos de estrada. Que bom que estão lá. Eu preciso mudar mesmo.

É... todos os dias a gente aprende uma coisa nova. Tudo bem. Vamos tentar ser lúcidos e não vender nosso caráter nunca, principalmente por migalhas. ah! isso não!
O jeito é respirar fundo e fazer o que tem que ser feito do melhor jeito. E se tem que enfrentar um Golias por dia, tudo bem. Eu tenho milhares de Davis que já passaram e ainda estão aqui dentro do meu peito. Estou tranquila. Que venham.

Tenho tanto lixo entalado aqui no meu peito que poderia escrever por mais 10h sem parar. Por hora chega. Tenho que estar forte amanhã.
Resolvi voltar com esse negócio aqui. Mais por uma necessidade de exteriorização do que qualquer outra coisa. E é aqui porque esse blog já existe. Mas poderia ser em qualquer outro lugar. Tanto faz. Esse negócio é um tipo de reflexão de autoconsciencia que quem quiser ler pode ler. É meio esquisofrenico mais acho que pode ajudar para libertar de alguns demônios. Sei lá. Vamos tentar, já que está irresistível ficar alheia a tecnologia. dou lhe uma, dou lhe duas...