quarta-feira, 22 de setembro de 2010

...El pedagogo moderno sabe perfectamente que la educación no es una mera cuestión de escuela y métodos didácticos. El medio económico social condiciona inexorablemente la labor del maestro. El gamonalismo es fundamentalmente adverso a la educación del indio: su subsistencia tiene en el mantenimiento de la ignorancia del indio el mismo interés que en el cultivo de su alcoholismo.


-José Carlos Mariátegui,
Siete Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana
publicado em 1928.
em 1928.
tempo. e o que é o tempo para quem não sente sua existencia- a sua e a sua existência.? trezentas páginas de texto para uma prova só são trezentas páginas e uma prova. aquilo que se escreve com vida só lê quem tem mais que olhos e capacidade reprodutiva de palavras.
que faz sentido, saber falar de toda obra revolucionária já escrita ou
ter demorado meia vida para conhecer um texto de marx,
por exemplo,
e conhecê-lo a cada respiração, a cada olhar, a cada passo, a cada segundo que passa?
que faz sentido, um diploma sem marcas nem cicatrizes nem questionamentos nem contradições
ou
a coragem de parar o que não tem sentido e ser sincero com seu coração?- com nenhuma e todas as possibilidades.
quanto tempo tem a felicidade?
quanto tempo tem a liberdade?
quanto tempo tem a lucidez?
quanto tempo tem a paz?
quanto tempo tem a transformação?
quanto tempo tem o tempo?

e se o tempo é só tempo
tudo é só isso.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

...que bom que concordamos. con-cordis. com coração. e se concordamos é porque nossos corações estão juntos, unidos- até posso dizer o mesmo coração. dizem que quando estamos confusos e perdidos devemos nos voltar ao centro. e nosso centro é onde está a verdade. e o centro o coração. porque a mente pode ser várias- nosso coração um só. que bom que concordamos. que bom que acordamos.
"Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite.
Um ruido de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo."

12-4-1919 
-Poemas Inconjuntos F.P.

Sono. muito sono eu tenho neste dia. um pouco mais do que nos outros que estamos juntos. faço de mim e de minha cama a mesma coisa. debaixo dos lençóis dos cobertores dos edredons até eucolchão e só. estou no mundo encantado do meu inconsciente. mais real do que o de fora. o seu sono de mundo me dá sono de vida no mundo. mas o mundo não tem culpa de você. então vou esperar você acordar ou se afastar para que eu possa acordar. porque inútil dizer ou fazer neste momento. são muitos e não querem escutar- o seu querer não tem brecha. mas eu escuto tudo e não quero um inferno particular. entro no mais profundo de mim mesma até estar mais calmo para poder sentir, para poder enxergar, para poder escutar e por fim, falar- se necessário for. se não você, pelo menos eu. pelo menos eu.

sábado, 11 de setembro de 2010

gracias a díos. às vezes pode não ser deus. pode ser a gente mesmo. nossa energia. isso aqui. as coisas mais incríveis acontecem e não é coincidência. e só são incríveis para nós, que não pensamos nisso. e se leve tranquilo e se tranquilo livre. se livre flui. se flui acontece. acontece.
procuro. tem uma caneta? não tenho. quer escrever? preciso. tudo bem, não esqueço. não? estou sentindo, já tá aqui. quando for escrever lembro do que sinti e sinto. e escrevo.

Macramê

dois nós
nós dois

trança

forma cor
tempo espaço
entendo entende

tranço

olhares sorrisos
carinhos abraços
musica poesia

transforma cria
quatro nós
seis nós
oito nós
nós tudo

sorriso abraço carinho música poesia cor
forma
forma

macramê.
não me venha com bandeiras

vermelhas
coloridas
brancas

se dentro não é

vermelho
colorido
branco

tá tudo aqui dentro
fora só reflexo
amanhã já é




segunda-feira, 6 de setembro de 2010

...
Não me contem que volta de lá
e que vem pros lados de cá
a felicidade
não cabe
tão feliz
que transborda
vira luz
sai correndo
vai pelo fluxo
e nos encontramos pelo caminho
c´os astros
c´as estrelas
cum astral
prá lá de Bagdá
aqui e lá
nem tempo nem espaço
só luz






Txum txáca txacá txum txá txá
txá txá txum txum txá txá txum txum

Aqui.

e foi um pôr-do Sol.

Certeza da beleza

...só poesia




Só poesia
Sol poesia
ó poesia
ia
ó
é
si
áh!
Sol
e vamos ficar mofando aqui por cinco horas.
não vamos. vamos sair daqui.
uma praça, um cigarrinho e voltamos.
caminhamos. uma praça crianças árvores, que tal?
já está. um mapa. caminhamos?
um rio. bora?
não me leva tanto a sério.
-mas quase.
então os pézinhos? os cachorros tão tudo mergulhando!
pézinhos só
um elefante prá deitar na areia -debaixo da árvore
deito pro Sol toda- cê também
as margens do Uruguai
às margens do rio
Colon rio
rio
mofando não
Estavas feia de bico, cinza e gorducha. tremia ao te sentir mas te queria e não perguntava quando. esperava seu tempo. seu tempo. porque a amo. saí a caminhar, saí de mim, de minha cidade e até desse país. quando nua lá estava e não coberta de nuvens -mais bonita que o retrato. dando a luz a uma criança luz que traz consigo chêro do novo. ar fresco que brota do orvalho e de cada pálpebra que se abre. chêro do novo de uma nova possibilidade do incrível a cada partícula de tudo que seu raiozinho preguiçoso penetra. não pergunto- sinto. sinto com todo meu corpo com cada particula de tudo meu que seu raiozinho preguiçoso penetra. conversamos. me sinto privilegiada por tê-la comigo pela conversa sem palavras por tudo que vejo sem os olhos. e a leveza do não ter. estás comigo. de bico cinza e gorducha- essencialmente nua mãe filha incrível maravilhosa Terra.
a cada minuto seu quinhão
nem mais nem menos do que presente
Presente
se mais se foi
Futuro
se menos passou
Passado

desperta

que tá dentro
tá fora

acorda

humildemente
medita

acorda

que tá dentro
tá fora

não julgue
humilde mente
medita

desperta

você e ele
igual
você e eles
iguais
compartilhe
com partilha

partilha

menos prá ser leve
leve prá voar
livre
e voar
liberdade

medita

desperta

sê livre só agora

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O rapaz e a raposa

Jupteriano e escorpioa

Com ascentente perto de buenos áries

Nossa cama é o mar

Somos sob a mesma pele

fogo



vendo a lua a lua é o olho

o olho é agua

a lingua é o corpo

a alma

fogo



agua é a minha calma

o meu beijo é brasa

brisa viva

Minha amada é agua

O nosso amor

De fátuo

fogo


Marcos Leal


-un regalito...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu moro numa casa onde moram pessoas. pessoas, árvore, planta, gatos e Passarinho. em suas bocas só saem poesia. de seus corpos saem mais do que isso. transbordam musicalidade. tudo chêra a insenso e amor. seus olhos têm as estrelas e por vezes Lua. quando alegres e juntos transbordam Sol. se me vou, lá ainda estou -na poesia, na cobertinha e até na arrumação. se me vou, aqui ainda estão - na poesia, Vinícius, Tom, Villa e até na bucha do quintal. só quando estamos em casa nos sentimos em casa. e o que mais é nossa casa do que nós mesmos? e só posso fazer e pensar e sentir onde moro como eu mesma. então só posso fazer o melhor a onde moro. na mesma intensidade do que a mim mesma. porque é a mesma coisa. e na verdade é tudo e só o que temos.


-dedico a querida Isa

boas vindas a santa santa fé

aqui se navega no esgoto, passando por cima de peixes mortos e de garrafas de plástico. lá fora o fedor do podre e as grandes bocas expelindo lixo da cidade. lixo das pessoas. na margem entulho e mais entulho. aqui dentro festa. lugar quentinho sanduiches empanadas. pose para a foto. pose. foto.
fito.
não sabem o tamanho da tristeza. tristeza que sinto agora. nem poderiam estando tão ocupados com fotos, imagens, estômago, umbigo.
e se fito percebo se percebo sinto. sinto que é a mesma coisa. lá fora e aqui dentro. lixo podre fede. as bocas expelindo lixo. pessoas mortas pessoas de plástico. meu estômago vira.
aqui dentro também se navega no esgoto.



...Pessoa:

"Y si siento cuán verdaderamente estoy solo, me siento libre pero triste. Voy libre hacia donde voy, mas donde voy nada existe"

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

corpos. corpos virtuais existem e coexistem. aqui e acolá. mesmo tempo sem espaço. tecnologia avança. avança? estar não estando. ser não sendo. mundo virtual do quase. do quase que nunca se completa. menos que um sonho. muito menos que uma vida vivida. vida vivida é corpo no corpo. olho no olho. lingua na nuca e quando tudo é todo. marca. arranha. machuca. cria e tranforma. o resto é elétrons fótons lítio chip e plasma. é máquina. máquina que troca com otra máquina. e vida só pode ser vida sê corpo é corpo vivo.
...e se você tem uma idéia incrível
é melhor fazer uma canção
está comprovado que só é possível
filosofar em alemão...

...poesia concreta e prosa caótica
ótica futura!

Caetã transborda brasilidade. que não é brasileirismo e nem nacionalidade. transborda Caetã! cê tudo nós. nós sem regra sem gramatica sem lei sem êra nem bêra. só nós tudo. melodia dos corações da terra verdêmarela. das canções! e que canções! língua. língua que roça a língua e a língua de Luís de Camões. lusamérica latim em pó. língua.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Horóscopo de 18/08/2010

Marte, um dos regentes do seu signo, vem trazendo a possibilidade de você desenvolver a espiritualidade e de atingir o autoconhecimento de forma mais amorosa. Ao ampliar a sua compaixão, você se mostra muito mais generoso e amável. Hoje, porém, será importante que não se feche demais do ponto de vista social.

Dica do dia: Uma vida interior mais profunda não implica em isolamento.



-Não disse que eles sabem tudo???

A vida é para os inconscientes (Ó Lydia, Celimène, Daisy)

A vida é para os inconscientes (Ó Lydia, Celimène, Daisy)
E o consciente é para os mortos — o consciente sem a Vida...
Fumo o cigarro que cheira bem à mágoa dos outros,
E sou ridículo para eles porque os observo e me observam.
Mas não me importo.
Desdobro-me em Caeiro e em técnico
— Técnico de máquinas, técnico de gente, técnico da moda —
E do que descubro em meu torno não sou responsável nem em verso.
O estandarte roto, cosido a seda, dos impérios de Maple —
Metam-no na gaveta das coisas póstumas e basta...


-Álvaro de Campos

terça-feira, 17 de agosto de 2010

ô sardade que arde
que nem tempestade
que nem truvão
no coração

ô mardita
ardida
vô pedi prá Rudá
levá
levá os ventos dos lado de cá
de cá
prá simbora ocês acordá

acordá tudo juntim

abraçadim

enroladim

quentim

e saberem que fui eu quem mandô
esse amô.












segunda-feira, 16 de agosto de 2010

más hermoso. río, cielo, estrellas... todo.



Santa Fé- Costanera- Argentina

el perro comunitario

além da dor
ir além da dor
para ver o bojador
-já disse o poetinha
no metrô das Clínicas

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

señor marito, los chinos y los yanks

prefiro comprar no seu marito. claro. porque o comércio todo aqui é dos chinos. os mercados e tudo o mais. os mercados maiores são dos yanks. prefiro dar dinheiro para seu marito, que não tem casa, não tem moto, não tem muita coisa. os chinos tem suas coisas próprias. e os yanks dominam tudo. - o tango, as grandes feiras, vinhos, gardel, la magia está tudo nos bairros centrais - que esperamos - e tudo com forma e preço pra turista. outra argentina. argentina da capa. nao se vê as cumbias e nem as villas. e o cheiro podre do rio da prata é sutil para isto. La Boca esgoto dos bons ares. os bons ares começam aí.
Padre, pintame el mundo en mi cuerpo.

-Canto indigena de Dakota del Sur

aos 200 anos entre as correntes que cruzam a independencia - nueve de julio

quando os espanhois vieram para cá e tomaram posse de tudo introduziram aqui o simbolo do que fizeram. hoje se chama Obelisco. mas poderia ter qualquer outro nome. forma fálica e gigante. um pinto gigante que representa o primeiro estupro da Argentina. no país deles isso e crime. quando se trata do pais deles em outro é orgulho. agora os filhos do estupro convivem com a cicatriz cravada bem no centro do seu coração, em sua capital, todos os dias.

domingo, 8 de agosto de 2010

aos mais doces amigos queridos

"
E se um dia...


tivesse fome
e houvesse um lugar com a melhor refeição 
sentisse sozinha
as melhores companhias
frio
o melhor calor
abandono
o melhor colo
sem saídas
os melhores sonhos
desilusão
os melhores amores
pedras
os melhores corações
monotonia
ritmo
dissincronia
poesia...
"


"...A poesia da minha vida só pode ser a poesia da vida de vocês. Porque é reflexo. Porque é recíproco."


amigos, queridos amigos. 
Pessoa já dizia que não-ter refere-se estar com a essência das cousas.
e confirmo. 
cada passo, cada momento, cada experiência sinto cada um de vocês.
por vezes um de cada vez, por vezes mais de um e por mais vezes todos juntos.
a cada passo que dou.
a cada sonho que sonho.
mas principalmente cada palavra que escrevo.
por não esperar nada é que me surpreendo a cada dia com vocês.
sabem exatamente o que preciso.
o momento certo, a hora certa.
ser vocês mesmos é o melhor que poderiam fazer para mim.
não poderia ser melhor.
não poderia de qualquer outra forma.
não penso em vocês.
e amar é a eterna inocência
e a eterna inocência não pensar.
os sinto. 
e sinto.
sinto.
amo.
e amo.


obrigada.
Despertar con Villa Lobos
olor a mate
pan y mantequilla
buena conversación
buenos compañeros 
y un poco de frío...

al caer la noche
pequeñas nubes rosadas
en el horizonte

un sonido de Jazz
recibe la noche que llega
ninguna estrella en el cielo
están todos aquí.

sábado, 7 de agosto de 2010

no, thanks
no, gracias
não, obrigada

tá tudo certo.

despedida em vermelho-violeta

Lá no fundo
lá trás
no horizonte
Ele
só Ele

Vermelho
Laranja
Amarelo

tudo fica

Vermelho
Laranja
Amarelo

num piscar de olhos
se vai
se foi

e fica

Laranja
Amarelo

do outro lado

Violeta

Bricolage

Se ela disse que quer voar
é porque tem asas

parece só raiz
quando não canta o trovão

com sua pele sagrada
com sua boca sagrada
e sua vida no chão

não fique aí enterrada
vem para a rua
AS HORAS PASSAM
JUQUE!
JÁ É A MESMA DA DESPEDIDA
NOITE VIROU DIA
DIA VIROU NOITE
JUQUE!
METADE DE MEU DESTINO

04.07.2010
Terceiro lugar que estou
não é nem meio dia

estou

aqui tá cheio de gente
ninguém está

está no trabalho
nos processos
na casa própria
na na moto própria
na cousa própria

respirocurto
coraçãoacelerado
celulartocando

está em muitos lugares agora
menos aqui

fala com um monte de gente 
não escuta quem está a sua frente

e continua estando
estando
num futuro
que é sempre passado.

Movimentadô de dinhêro

Lugar artificial
pessoas artificiais
que cheiro é esse?
que cor é essa?
que cara é essa?
que fazem aqui?
Esperam seu dinhêro
No final do mês.

Só?
só.

Mas o que fazem aqui?
qualquer coisa
Mas gostam?
não. gostam de dinhêro
de ganhar dinhêro
ganhar dinhêro no final do mês.

Só?
só.

Ganham dinhêro todo dia?
um dia.
E o resto dos dias?
fazem qualquer coisa.
A mesma coisa?
pode ser
ou não
mas para eles

é a mesma coisa.

é a burocracia- ou o processo- ou a piada cotidiana-

tem que assinar.
mas não vai me prejudicar?
não.não, imagina
cancela este
começa outro
limpo
do zero
vai assinar?
eu não entendo
o contrato era xis
e xis passou prá mim
não passou prá aí também?
não
não
não sei
mas tem que assinar
não desisti
o contrato terminou!
mas não terminou aqui
ó no sistema
então tem que assinar
não faz sentido
?
é a burocracia
não posso fazer nada
e o papel que assinei dizendo
que assinei o tempo xis?
não vale nada
nada na verdade
vale o que tá no sistema
e está xismaisum
se não fica
assina
e se não assinar?
o Estado te processa
Como vou assinar
se não desisti de nada?
não faz diferença
não faz?
não sei
mas tá no sistema
tem que assinar

...

é a burocracia
querida.
"Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."


-Ah Caio Fernando! E não falávamos disto dias atrás?

Santos Josés dos Campos

Santos Josés dos campos!
Quantos são! 
E quantos!

acorda cinza
volta cinza
dorme cinza

Volta pro campo José!

Caetã minina

Só pode ser poetinha
filha da vida
da Vida
nem minha
nem sua
E Leninen já havia dado a letra, nunca se leve tão a sério e nunca se deixe levar...
e o mistério e tanta coisa...
tanta coisa!
É óbvio
sentimos
ÓBVIO
se antecipasse
seria prisão
não-óbvio
Óbvio.
Por hora, basta ser pai
a mãe é Passarinho
Jajá bate asas de novo
deixando as penas
as penas
por onde passa.

Ainda não é leoa
não é leoa
é gato
é Passarinho.
Menino homem
nunca vi tanta força
tanta força com tanta boniteza

Foi dona Manu?
foi o pêxe?
foi as tias e as garrafinhas?
ou será as garrafadas?

-Sê forte mininu!
abre este rio
abre este rio!
e faça com as próprias mãos
é teu caminho
deixa cada gota
e cada gota no teu devido lugar

E quando fizer
tornará homem-mininu
mas no fundo sempre será

só mininu.
Lazo Rei
Astro Rei
Rei Sol é Antares
e Lazo escorpião
coração

Porteira

Fechada e de ferro
bem próxima estava a porteira

abro os olhos
aberta e de madeira
aberta

-a gente só vê a última coisa
mas no fundo tá tudo aberto
"BaHiá
iá iá iá
iaiá
vai me chamá
vo ta lá
iaiá
á...

Santo que é santo é Xangô
E minas é Bahiá
Bahia uai!
oxênte meu pai
que trem bão!"

Se musicado mais um A:

"... BaHiá
iá iá iá
iaiá
vai me chamá
vo tá lá
iaiá
á..."

-para Dj que deu a dica
e para Cris que musicou

em três ato com fim

1° ATO

OLHARES Peireiro
OLHARES Malas
Olhares
OLHO
e olho

2° ATO

OLHARES Roupas
Olhares ruas
OLHAR Relógio
E S P E R A
e espero
Sorrisos e abraços
SINTONIA
Bonito
Bonita
Olhares
E olho

3° ATO

Bocejo s o n o
pensamentosss
Li Ber Dade

-depois do Paraíso

FIM.

Sol Rio Podre
Rio podre
Sono ao lado
Sol que se esfoooorça
no meio do todo
do meio do tudo
CINZA

São Paulo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ô sardade docês tudo!
docês tudo, tudim.
tudo juntim.
daquele jeitim.

sábado, 3 de julho de 2010

Sobre cativar, cuidar e ritos




Capítulo XXI



E foi então que apareceu a raposa:

- Bom-dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia.


- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...


A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como

não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.


- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O AMOR

Um dia,
quem sabe,
ela,
que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está no retrato sobre a mesa.


Ela é tão bela,
que,
por certo,
hão de ressuscitá-la.


Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas,
que dilaceravam o coração.


Então, de todo amor não terminado seremos pagos em inumeráveis noites de estrelas.


Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!


Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!


Ressuscita-me!


Quero viver até o fim o que me cabe!


Para que o amor não seja mais escravo de casamentos,
concupiscência,
salários.


Para que,
maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.


Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado,
mendigado.


E que,
ao primeiro apelo:

- Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.
Para viver livre dos nichos das casas.
Para que doravante a família seja o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.


1923- MAIAKÓVSKI

dia bonito

Temos que agradecer
sempre que acontece
ao amanhecer
ver o dia nascer

Mais ainda agradecer
se podemos ver
com um doce amigo
isso acontecer

[e se for
ao som de Villa Lobos
será o dia mais bonito
-de todos
sempre.
Tomei uma decisão
Não fujo mais de você

-Por que?

Tenho mais de vinte anos.
"...e quem é que tá livre de reproduzir esse mundo que nos gera? Galeano sacou. Não foi fácil. Em dias e noites de amor e de guerra foi que ele entendeu. Foi na guerra. Na guerra da rua e na guerra da alma. 
Em uma das noites de amor li para você, moço bonito. Li despretensiosamente para quem me olhava diferente. Precisava escutar e eu precisava ler. Você sacou. Eu também."
"Despedidas são ridículas.
E eu, mais ainda."

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Quase férias

Bandeira e Vinícius
deram o tom desta tarde.
Tarde que parecia inútil
-em casa é muito chato
Agora tem cor
tem cheiro
sorriso e alegria

poesia.

domingo, 27 de junho de 2010

Boas vindas ao Coragem

Bem vindo pequeno passarinho
Zezinho com todo seu amor
como quem ama tanto assim
Reclama.
Por hora
Bem vindo pequenino
mesmo que por alguns dias
Logo estará no calor
e amarão melhor do que eu
neste momento.


Meditação do dia

Sempre que houver alternativas tenha cuidado.
Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso. 
Opte pelo que faz seu coração vibrar. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências.

"Esqueça essa história de QUERER entender tudo.
Em vez disso:VIVA!!!
Em vez disso:DIVIRTA-SE!!!
Não analise:CELEBRE!!!"

do grande e iluminado OSHO

sábado, 26 de junho de 2010

Confiança



Fazei o bem
sem olhar a quem!
Fazei o bem sem olhar a quem! 
Fazei o bem sem olhar a quem!
Fazei o bem 
sem olhar a quem! 
Fazei o bem 
sem olhar 
a quem!
Fazei o 
bem 
sem olhar a 
quem!
Fazei o bem  
sem olhar a quem!
Fazei o bem 
sem olhar a quem!





GAYATRI MANTRA

Calor
chega pertinho
me abraça
abraça mais que abraço

Amor
sintonia
pensamentos transbordam
se misturam
rosa com azul-verdeágua

Carinho
lobinho vem devagarinho 
aquietar sua alma em meu cobertor
sente. e sente tudo.
também sinto.

Um mantra.
Três atos no total.
Ó meu benzinho
e essa Lua
e esse céu
e essas estrelas
já sabia qual seria a resposta
mas queria fazê-la.
Já sabia.
Minha Lua é outra
meu céu dá outro tom
e estas estrelas me guiam para outro lado.
não é mais reflexo
não é mais recíproco
não tem mais poesia
-ou uma doce ironia cósmica

em forma de poesia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

"Dois corações
que se encontraram com o meu.
Um no céu
-do amor
outro debaixo da árvore
-dos encantados.
Com tantos sonhos e encantamentos
só poderia nascer este Sarau.
Debaixo desta árvore
e em volta deste fogo
-com um esforço mágico
ele existiu.
E se fôssemos só nós
e a Lua
nos bastariamos, descobrimos.

Mas aos poucos os outros corações
foram aparecendo
e foi uma festa linda."


Como um beijo

Quando estamos assim
debaixo dessa árvore
na clareira dessa Lua
ao redor dessa fogueira
lendo essas poesias
junto a estas pessoas
morango vira beijo.

Mas acho que a melhor coisa que faço pelas pessoas é deixá-las serem.
minha responsabilidade é somente ser o que sou, e sei também que me cobram por isso.
E por isso se transformam junto comigo. porque sou. antes de mais nada. antes de nada.

se querem amar, que amem.
se querem odiar, que odeiem.
se querem ter ciúmes, que o tenham.
se querem ter inveja, que invejem.
se querem ficar perto fiquem, ou fiquem longe.
tenham suas experiências e se transformem.

E a forma mais rápida é não preservar.
é saber que sente.
é se abrir para sentir.
é deixar-se sentir por todo corpo
por toda a pele
é amar por dentro e por fora
odiar por dentro e por fora
chorar por dentro e por fora.

Não segure. Se fizer isso vai apanhar.
e vai apanhar. e não vai compreender.
tem que entrar para sair
e só sai depois que entra
e a gente é muito fracote
muito pequenininho
prá segurar uma coisa que é tão grande
maior do que a gente
que vem
transpassa
e sai
fluxoconstanteinfinitum
e a gente nisso
não é isso
e muito menos tá fora disso.

tudo junto ao mesmo tempo
tudo isso
é só isso.
"Sim, somos responsáveis por nossas ações.
Nosso tempo não está prá inocência assim mais
e inocência se tem consciência é covardia.
não seja covarde.
A confusão tira muita energia das pessoas que estão a sua volta.
Não as faça chorar
seja responsável por elas
pelas escolhas que estão sendo feitas
suas e a deles
não é culpa
mas responsabilidade."

"Olhe prá ela. Está nos seduzindo.
Com uma lua como essa
fica difícil termos toda responsabilidade
por nossos atos."

quarta-feira, 23 de junho de 2010

-Porque está chorando?
-Eu tô com muita dor de cabeça e de garganta.
Seguro sua mão olhando nos seus olhos chorões.
-Então tome mel. Peça para sua mãe comprar prá você um mel, mas daqueles que é a própria pessoa quem faz e vende.
Me olha atenta. Agora com olhos de quem me tá me dando muita atenção.
-E tome duas ou tres colheres bem cheias por dia. Melhor do que remédio. Você vai ver.
Surge um sorriso e já não há mais lágrimas.
Já saindo penso em reforçar a proposta e volto.
-Não esquece, tá?
Acena a cabeça.
Já não é mais a mesma carinha do começo da nossa conversa.
Já está melhor.
"Bom dia,
coraçãozinho dos outros."
...
Você tem toda razão.
existe sim, alma em todas as cousas.
tudo é alma.
Porém, algumas pessoas
exercem outras cousas
se não elas mesmas
e não se pode ver -de imediato
sua alma.

mas ela tá lá.

Aula da rua. Aula da alma

Distraída. Como de costume. No caminho, chegando.
-Oi dona!
-Oi. O que estão fazendo aqui?-dois olhares sapecas
-Faltei aula professora.
-Mas vocês estão, estão... -e olho para baixo
brincando de pipa!
soltando pipa!
-Aham! -risadinhas
-E vocês não tem aula comigo hoje?
-Não. Só amanhã
-Então tudo bem. Podem continuar.

Afinal

  Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.   
  Sentir tudo de todas as maneiras.   
  Sentir tudo excessivamente,   
  Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas   
  E toda a realidade é um excesso, uma violência,   
  Uma alucinação extraordinariamente nítida   
  Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,   
  O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas   
  Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.   
   
  Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,   
  Quanto mais personalidade eu tiver,   
  Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,   
  Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,   
  Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,   
  Estiver, sentir, viver, for,   
  Mais possuirei a existência total do universo,   
  Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.   
  Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,   
  Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,   
  E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.   
   
  Cada alma é uma escada para Deus,   
  Cada alma é um corredor-Universo para Deus,   
  Cada alma é um rio correndo por margens de Externo   
  Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.   
   
  Sursum corda!  Erguei as almas!  Toda a Matéria é Espírito,   
   
  Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos   
  Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho   
  E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!   
  Sursum corda!  Na noite acordo, o silêncio é grande,   
  As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam   
   
  Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos   
  Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.   
  Sursum corda!  Acordo na noite e sinto-me diverso.   
  Todo o Mundo com a sua forma visível do costume   
  Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,   
   
  Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.   
   
  Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço   
  Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!   
  Mãe verde e florida todos os anos recente,   
  Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,   
  Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis   
  Num rito anterior a todas as significações,   
  Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!   
  Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,   
  Grande voz acordando em cataratas e mares,   
  Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,   
  Em cio de vegetação e florescência rompendo   
  Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso   
  A tua própria vontade transtornadora e eterna!   
  Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,   
  Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,   
  Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,   
  Que perturba as próprias estações e confunde   
  Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!   
   
  Sursum corda!  Reparo para ti e todo eu sou um hino!   
  Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima   
  Volteia serpenteando, ficando como um anel   
  Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,   
  Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.   
  Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente   
  Meu coração a ti aberto!   
  Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,   
  Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,   
  Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,   
   
  Sou um monte confuso de forças cheias de infinito   
  Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,   
  A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une   
  E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim   
  Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,   
  Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira   
  Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,   
  Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.   
   
  Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.   
  Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,   
  No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo   
  Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos   
  Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.   
   
  Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,   
  Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo   
  De chamas explosivas buscando Deus e queimando   
  A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,   
  A minha inteligência limitadora e gelada.   
   
  Sou uma grande máquina movida por grandes correias   
  De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,   
  O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,   
  E nunca parece chegar ao tambor donde parte ...   
   
  Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito   
  Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,   
  Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,   
  Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço   
  Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.   
   
  Dentro de mim estão presos e atados ao chao   
  Todos os movimentos que compõem o universo,   
  A fúria minuciosa e dos átomos,   
  A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,   
  A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,   
   
  A chuva com pedras atiradas de catapultas   
  De enormes exércitos de anões escondidos no céu.   
   
  Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio   
  De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.   
  Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,   
  Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,   
  Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,   
  Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,   
  Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,   
  Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,   
  Sobrevive-me em minha vida em todas as direções! 




Álvaro de Campos