sexta-feira, 2 de julho de 2010

O AMOR

Um dia,
quem sabe,
ela,
que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está no retrato sobre a mesa.


Ela é tão bela,
que,
por certo,
hão de ressuscitá-la.


Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas,
que dilaceravam o coração.


Então, de todo amor não terminado seremos pagos em inumeráveis noites de estrelas.


Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!


Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!


Ressuscita-me!


Quero viver até o fim o que me cabe!


Para que o amor não seja mais escravo de casamentos,
concupiscência,
salários.


Para que,
maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.


Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado,
mendigado.


E que,
ao primeiro apelo:

- Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.
Para viver livre dos nichos das casas.
Para que doravante a família seja o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.


1923- MAIAKÓVSKI

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