quinta-feira, 26 de março de 2009

A Revolução não será televisionada

Muitas vezes somos tomados por um otimismo que não nos permite ver a real dimensão das coisas. Para nos confortarmos alegamos que notícias ruins vendem mais do que as boas e por isso muita coisa boa não é noticiada pela grande imprensa marrom paulistana. Contudo, se analisarmos com calma os fatos perceberemos que as coisas estão piores do que imaginamos.

É comum entre os pessoas com o cérebro um pouco(não muito) maior que um caroço de azeitona desprezarem e nem se quer saberem das novidades radiofônicas e não se prenderem aos engodos aplicados pela indústria cultural e pela indústria fonográfica, sobretudo, brasileira. Adoramos dar boas notícias de novas bandas independentes que conseguiram gravar e mostrar sua música e seu trabalho. Ficamos contentes quando artistas consagrados podem se dar ao luxo de descartar a estrutura de uma grande gravadora e realizar seu trabalho da maneira livre e apenas contar com esquema de distribuição.

Em uma conversa sobre a indústria cultural e indútria fonográfica a professora Anita Simis lançou a seguinte provocação: "a indústria fonográfica está acabando mesmo? Tem gente fazendo shows e usando cd caseiro vendido em camelô!"

Se olharmos para o feito do Radiohead com o In Rainbows ou se pensarmos em bandas como o Mundo Livre S/A, o Zero 16 ou ainda o 1/2 Dúzia de 3 ou 4. Mesmo se olharamos para o Chico Buarque ou a Mônica Salmaso que apenas usam a Biscoito Fino para distribuir seus discos diríamos que sim! A estrutura ou a 'instituição' gravadora acabou! Não aprisiona e não tem mais poder sobre o artitsta, agora ele é livre e outros tantos que quiserem se aventurar no mercado já não dependem delas. Entretanto, o AC/DC, banda consagrada do rock mundial, ainda está em uma gravadora (Columbia) e faz propaganda contra o iTunes e qualquer outro meio de download de músicas pela internet. E o seu mais recente disco lançado - "Black Ice" - já vendeu mais de 1,9 milhões de cópias. "Viva la vida" do Coldplay (EMI) mesmo com acusações de plágio vendeu mais de 2 milhões de cópias. Amy Winehouse (Universal) é um dos mais novos fenômenos pop de vendas, seu cd "Back to black" vendeu mais de 1,5 milhões de cópias só no Reino Unido e há quem diga que isso é pouco. Tudo bem, concordo que as vendas de cds caem a cada ano, mas daí dizer que essa estruta acabou é exagero ou no mínimo um equívoco por falta de informação.

Se no exterior a música pop ainda está sob o jugo das gravadoras no Brasil não é diferente. Contudo, aqui passamos mais desapercebidos em função das grandes gravadoras se ocuparem com o Axé e o Sertanejo Romântico. Pessoas inteligentes não comentam sobre o último disco da Ivete Sangalo(Universal), Jammil e Uma Noites(Deckdisc) ou do Victor e Léo(Sony/BMG), mas esses têm sido o trunfo da indústria fonográfica brasileira, esses têm as músicas mais executadas em shows no Brasil e movimentam cifras astronômicas. Ivete Sangalo é a artista mais lucrativa do Brasil (com cachê que bate nos R$ 400 mil, dependendo do evento). O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) divulgou que a faixa mais executada em shows no Brasil foi "Praieiro", de Manno Góes (integrante da banda baiana de axé Jammil e Uma Noites). O compositor que mais arrecadou com a execução de suas músicas em shows no Brasil foi o mineiro Victor Chaves, que com seu irmão Leo forma a dupla Victor & Leo.

Enquanto as gravadoras estiverem lucrando em cima dessa turma que vende beijo na boca e dor de corno elas ainda vão controlar as estações de rádio e impossibilitar que novas bandas gravem suas músicas e alcancem um número maior de pessoas.

Sendo bem otimista podemos afirmar que estamos vivendo um processo (kafkiano, eu diria), mas ainda estamos longe de vermos artistas livres, donos dos seus fonogramas e com uma boa distribuição. Por hora, sabemos que a revolução não vai passar na tv porque não tem grana pra pagar 15 minutos no horário comercial.

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/03/443375.shtml