INFORME Camponeses e militantes pró-Morales são assassinados na Bolívia A crise na Bolívia tem ocupado bastante espaço na mídia nacional, sobretudopela possibilidade de corte do fornecimento de gás natural ao Brasil. Mas asituação é muito mais grave do que tem aparecido. Houve massacre decamponeses na Província de Pando, fronteira com Brasil e Peru, como muitobem relata a nota emitida pela Secretaria de Direitos Humanos da DioceseAnglicana de Brasília (leia abaixo). O massacre, porém, é citado pelaimprensa como confronto entre governistas e oposicionistas. Mais grave aindaé que governadores de Beni, Tarija e Santa Cruz, também estados de oposiçãoa Morales, querem imputar o massacre às tropas do Exército a serviço deMorales, como noticiou a Folha de São Paulo de sábado, 13 de setembro. Após o assassinato de cerca de 30 camponeses na noite da última quinta-feira,11 de setembro, por ordem de Leopoldo Fernández, governador de Pando, ogoverno de Evo Morales decretou estado de sítio no Estado. Entretanto,Fernández aceitou o decreto somente ontem, 14 de setembro, permitindo, aentrada do exército boliviano no Estado. De acordo com depoimentos demoradores da região e de sobreviventes do ataque, o governador de Pandocontratou mercenários e narcotraficantes do Peru e do Brasil para atuar noconfronto. Fernández nega a acusação, mas admite que grupos armadosparticiparam do massacre dos camponeses. O governo boliviano prometeu na noite deste domingo, condenar LeopoldoFernández a 30 anos de prisão por crimes de lesa humanidade. O vice-ministroda Coordenação com os Movimentos Sociais da Bolívia, Sacha Llorenti,declarou que esse crime não ficará impune, “Quero deixar absolutamente claroque este caso não vai cair na impunidade, porque vamos mostrar que asinstituições do Estado boliviano funcionam e que Leopoldo Fernández terá umasentença de 30 anos sem direito a indulto pelos crimes que cometeu”. Llorenti afirmou, ainda, que o crime foi premeditado e planejado já que osprincipais alvos dos pistoleiros eram os dirigentes dos camponeses, e quasetodos os mortos receberam os tiros na cabeça e no coração. Leopoldo Fernández é político de extrema direita, membro do Podemos,principal partido de oposição ao governo Morales, e integrou o segundogoverno do general Hugo Banzer Suárez (1997-2001). Leia abaixo a Nota da Secretaria de Direitos Humanos da Diocese Anglicana deBrasília: SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA DIOCESE ANGLICANA DE BRASÍLIA
MATANÇA DE CAMPONESES EM PORVENIR, BOLÍVIA Porvenir é um povoado situado a 30 km da cidade de Cobija, capital doDepartamento de Pando na Bolívia, um dos cinco estados que se rebelaramcontra o Governo Central daquela república. Ali ocorreu, no dia 11 desetembro, o que tem sido considerado o pior massacre da Bolívia em seuperíodo democrático. Trinta camponeses mortos já foram contados, e secalcula que tenham ocorrido pelo menos mais 20 mortos, além de dezenas deferidos. Homens, mulheres e crianças, inclusive mulheres grávidas e idosos. Segundo uma série de entrevistas ao vivo com sobreviventes, realizadas pelarede de rádio comunitárias boliviana “Red Erbol”(http://www.erbol.com.bo/index.php), na noite do dia 11, cinco veículos comcamponeses se dirigiram, desarmados, a um “ampliado” governamentalconvocados pela federação de camponeses para a localidade de Filadelfia, poruma estrada no meio da mata. Às 8h30 do dia 12, eles foram retidos, ainda naestrada, por um destacamento da polícia estadual de Pando. Os policiaisdetiveram-nos ali, despistando-os por cerca de três horas; pouco depois das11 horas, surgiram subitamente veículos contendo de 30 a 50 paramilitaresarmados de fuzis, revólveres, escopetas e metralhadoras, e foram logoatirando nos camponeses surpreendidos. A polícia se retirou, e os camponesesque não tombaram tentaram fugir pela mata, perseguidos pelos paramilitares.Quando estes os alcançavam, derrubavam-nos e matavam-nos a sangue frio.Alguns, mesmo feridos, conseguiram chegar a um rio próximo e jogaram-se naságuas. Mesmo assim, os assassinos os metralharam, e muitos morreram nestascircunstâncias. Os paramilitares, ligados ao prefeito (governador) do Estado de Pando Sr.Leopoldo Fernandez e ao “Comitê Cívico” estadual mataram indiscriminadamentemulheres grávidas, idosos e crianças, segundo relatos feitos na rádioeducativa captados aqui em Brasília via internet. Os veículos dos camponesesforam queimados e seus pertences roubados. Não houve nenhuma resistência porparte dos camponeses, que foram surpreendidos na operação. A políciaestadual a tudo assistiu sem tomar providências, e a matança prosseguiu atécinco horas da tarde. Muitos corpos estão ainda no meio do mato e no rio; e as autoridadesestaduais rebeladas contra o governo central não estão permitindo a entradade socorro na área. Organismos de diferentes instituições têm tentado chegarao local, mas as autoridades estaduais vedam o aceso à área do conflito eimpedem que entrem na cidade. Muitos feridos têm se dirigido aos hospitais,e outros não tiveram coragem de procurar ajuda por medo de serem mortos,pois não existe nenhuma segurança na cidade, que vive uma situação de caos,sem policiamento, onde mesmo os feridos continuam sendo ameaçadosimpunemente, e a população se recolhe as suas casas temendo os saques queocorrem com freqüência. A Secretaria de Direitos Humanos da Diocese Anglicana de Brasíliasolidariza-se com as famílias dos falecidos; pede paz, justiça,solidariedade e diálogo na Bolívia; conclama a todos e todas paraprotestarem contra esse ato de barbárie perpetrado pelas autoridades doDepartamento de Pando e seus grupos paramilitares protegidos; e exige que asautoridades brasileiras detenham o Sr. Leopoldo Fernandez e outras pessoasresponsáveis por esse crime caso entrem em território nacional, para quepossam ser processados e julgados por crime contra a humanidade. Brasília, 14 de setembro de 2008Paulo Couto Teixeirasecretáriofraternidade@solar.com.br Assessoria de ComunicaçãoComissão Pastoral da TerraSecretaria Nacional - Goiânia, Goiás.Fone: 62 4008-6406/6412/6400www.cptnacional.org.br
Um comentário:
Lamentável, revoltante e até desanimador...Agora só uma provocação(de leve): "a religião é o ópio do povo"?!rs...
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