quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Reativação da 4ª Frota preocupa sul-americanos

Sucessão de coincidências justifica preocupação e estranheza dos países do continente com entrada em operação de força naval dos EUA

Enquanto países e instituições sul-americanos manifestam preocupação e estranheza com a reativação da Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos, o governo de Washington garante que a unidade, que atuará nos mares que banham o continente, não tem características de ataque nem navios ou armamentos fixos, servindo apenas para ajuda humanitária.
A forte reação à iniciativa estadunidense deve-se à ocasião em que a medida foi anunciada e a uma série de coincidências.

Em primeiro lugar, descobertas de grandes reservas de petróleo distantes centenas de quilômetros do litoral brasileiro também foram divulgadas este ano. A dependência da economia dos EUA com relação ao petróleo é grande e a iniciativa militar em grandes produtores do combustível fóssil é amplamente conhecida, como no caso do Iraque. Mais ainda, hoje 50% das importações de petróleo dos Estados Unidos vêm da região, especialmente das reservas do México e da Venezuela, voltadas para o Caribe.

Venezuela, Bolívia e Equador têm presidentes que baseiam seus discursos em um forte sentimento antiamericano, acusando o governo de George W. Bush de tutelar a região. Para muitos, as declarações do venezuelano Hugo Chávez se aproximaram, nos últimos anos, às feitas pelo líder cubano Fidel Castro, histórico inimigo dos Estados Unidos. Na semana passada, o clima esquentou com a expulsão dos embaixadores americanos da Bolívia e da Venezuela. Os EUA responderam no mesmo tom.

Já o Equador dá mostras de que não vai renovar a licença para a instalação da única base aérea militar permanente dos EUA na América do Sul, na cidade portuária de Manta. O acordo expira em novembro de 2009 e o presidente Rafael Correa já disse que não vai prorrogá-lo.

As coincidências não param por aí. O anúncio do restabelecimento da Quarta Frota foi feito em 24 de abril, dias antes de os chefes de Estado da América do Sul assinarem, em Brasília, o protocolo de constituição da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Em maio, foi lançada pelo Brasil a idéia de criar um Conselho de Segurança da América do Sul, com apoio inclusive da Colômbia, principal aliada dos EUA no continente.

Diante dos questionamentos, foram muitas as reações de instituições como o Senado brasileiro e os parlamentos Amazônico (Parlamaz) e do Mercosul.

Um exército em alto-mar

Uma frota, ou frota naval, é uma grande formação de navios de guerra, equivalente, no mar, a um exército em terra. Geralmente é permanente e designadapara cobrir uma determinada massa de água, oceano ou mar.Os Estados Unidos usam números para nomear suas frotas. Atualmente, muitas delas, como a recriada Quarta Frota, são unidades administrativas que formam forças-tarefa para operações específicas.Ou seja, apesar de não ter, como anunciam os oficiais americanos, equipamentos ou navios fixos, quando em exercício, a Quarta Frota reunirá porta-aviões e submarinos, entre outrosnavios de guerra de grande porte, para patrulhar as águas do Atlântico e do Pacífico, da América Central à Patagônia. A Quarta Frota ainda não tem grande efetivo e sua instalação, por etapas, está programada para ser concluída até 2009.O contingente foi criado originalmenteem 1943 para patrulhar as águas internacionais próximas à América do Sul. Naquele ano, em meio à Segunda Guerra Mundial, diversas embarcações civis de países aliados dos Estados Unidos, inclusive do Brasil, foram torpedeadaspor submarinos e navios de guerra da Alemanha nazista.Com o fim da guerra e a concentraçãodos interesses dos Estados Unidos na Europa Oriental e na antiga União Soviética, nos anos da Guerra Fria, e, mais tarde, no Oriente Médio, sua instabilidadepolítica e suas grandes jazidas petrolíferas, não havia mais razão para manutenção da Quarta Frota, que foi desativada em 1950.A unidade voltou a operar nos mares da América Latina em 1º de julho deste ano. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou que a reativaçãoé apenas um ajuste operacional sem objetivos de ataque, que visa melhorar o combate ao narcotráfico, a assistência humanitária em caso de desastres naturais como furacões e a cooperação com as nações parceiras, inclusive em exercícios militares.A sede da Quarta Frota é a Estação Naval de Mayport, na cidade de Jacksonville,na Flórida. O comandante é o contra-almirante Joseph Kernan.

Fonte: Jornal do Senado

3 comentários:

Pri disse...

Coincidências?
Está tudo bem então.
Os EUA só querem controlar o narcotráfico e dar um "help" humanitário.
Poxa, mas logo aqui na América do Sul?
Que legal.
Como eles são solidários com os vizinhos pobres.
Imagine...
depois dessa queda da bolsa, -ontem!- eles estavam precisando mesmo de algum din din, do tipo do pib do Brasil inteiro por exemplo, acho que a gente podia retribuir a eles com as reservas de petroleo, afinal de contas, "in God we trust".

André Rocha disse...

Tenho medo do meu pessimismo...ele parace sempre se concretizar...

Anônimo disse...

Olá! Furação na américa do sul é o fim da picada!! Isso me lembra o mundo livre : "É bom rezar todo dia fera, para a gente nunca virar alvo de uma missão humanitária aliada". Gostei do blog! Beijo, Ana